O recente bloqueio do X (antigo Twitter) no Brasil colocou em evidência uma nova rede social no país: o Bluesky. Desde a decisão e cumprimento da ordem do ministro Alexandre de Moraes no dia 30 de agosto, a plataforma ganhou mais de 2,6 milhões de usuários, dos quais mais de 85% são brasileiros. Com isso, o aplicativo tornou-se o mais baixado na App Store (IOS) e na Play Store (Android) no país.
Essa rede social foi idealizada por Jack Dorsey, o mesmo criador do Twitter, em 2019. Na época, era um projeto da própria empresa e se tornou uma plataforma independente em 2021. Dorsey saiu do projeto após um tempo, deixando-a sob o comando da executiva Jay Graber, atual CEO.
O Bluesky tem a promessa de construir uma internet social, na qual todos ajudam a criar o futuro no ambiente digital. De certa forma, essa ideia resgata as expectativas que existiam sobre a internet em seus primórdios, quando era vista como um espaço de democratização de conhecimento e conexão. Isso foi antes de a busca pela monetização virar o foco dos internautas e haver uma sobrecarga de informações online.
O que é o Bluesky
O Bluesky é um microblog com uma proposta diferenciada. Ele é focado no compartilhamento de textos curtos, como o Twitter, mas tem como principal característica a descentralização de sua estrutura. Isso significa que permite aos usuários criar seus próprios ambientes dentro da plataforma, de modo que a rede social não pertença a uma única empresa. Todos são donos e podem definir suas regras.
De forma prática, é como se conseguíssemos acessar conteúdos de diferentes plataformas, como YouTube, Instagram e Twitch, em um único lugar. Cada um de nós desenvolve o próprio espaço, como redes sociais particulares, mas que funcionam em concordância. Pode ser comparado também a quando duas pessoas criam e-mails em serviços diferentes (Gmail, Hotmail, Yahoo), mas conseguem trocar mensagens entre si.
Isso é possível porque o Bluesky foi construído no AT Protocol (Protocolo de Transferência Autenticada), que corresponde a uma linguagem de comunicação com base em código aberto. Esse protocolo possibilita a comunicação entre plataformas hospedadas em diferentes servidores como parte de um sistema maior. Uma das vantagens é a eliminação do controle das Big Tech sobre as redes sociais, por exemplo.
Como abrir sua conta nessa rede social
Para criar sua conta, é preciso fornecer um e-mail, criar uma senha e definir o nome de usuário. Ao criar sua conta no próprio site do Bluesky, seu handle será @nomeescolhido.bsky.social, mas você pode usar as communities handles, ou seja, criar seu @ no domínio da comunidade da qual você participa. Por exemplo:
- swifties podem mudar bsky.social para swifties.social;
- amantes de livros podem ser bookstan.online;
- emos podem se identificar como emos.social;
- fãs da banda kpop ATEEZ também podem ter seu atiny.social;
- programadores e desenvolvedores interessados em dar um toque de humor ao perfil podem adquirir o codafofo.club.
Você também pode criar a sua community handle, conforme as instruções disponibilizadas pela própria plataforma.
Como funciona o Bluesky
O Bluesky é um microblog com um visual e funcionamento similar ao seu predecessor, o Twitter. Os usuários podem compartilhar textos de até 300 caracteres, além de fotos, GIFs e vídeos (esta última função foi liberada recentemente a pedido dos brasileiros). Antes de publicar, é possível definir o idioma do texto e quem pode interagir. Naturalmente, também é possível seguir outros perfis; curtindo, respondendo e republicando as publicações deles.
A página inicial da plataforma, tanto no app quanto na web, conta com um menu principal à direita. Nele é possível ajustar as configurações, controlar as notificações, procurar feeds sobre diferentes temas, criar listas interessantes para você e sua comunidade, verificar os chats privados, entre outros. A ferramenta de listas são especialmente importantes neste momento inicial da plataforma ao ajudar as pessoas a encontrar novos perfis para seguir, como os blogroll nos blogs.
Os feeds que você acompanha ficam disponíveis na aba home. A princípio, já são disponibilizadas três timelines: atualizações de quem você segue, assuntos mais populares no Bluesky e conteúdos populares entre as pessoas que você segue. Conforme você se inscreve em outros feeds, eles aparecem neste mesmo ambiente, como o “ciências de dados BR” na minha página inicial (confira na imagem abaixo).
Funções interessantes no Bluesky
As características da plataforma possibilita algumas funções diferenciadas em relação a outras mídias sociais semelhantes no mercado. São elas:
Fazer portabilidade de contas
Um dos maiores desafios das redes sociais centralizadas é lidar com a perda de informações quando há algum problema com o perfil. Os usuários podem perder seguidores, conteúdo, engajamento, exigindo muitas vezes começar do zero. Isso é uma grande questão especialmente para criadores de conteúdos, cujo trabalho está todo baseado em uma única plataforma.
Com o Bluesky, existe a alternativa de portabilidade de contas, ou seja, é possível mudar o servidor sem perder os dados do perfil. Se houver algum problema com o local onde seu perfil está hospedado, você pode trocá-lo sem a necessidade de criar uma nova conta.
Usar o domínio do seu site como username
Quem tem um site (corporativo, blogs, portfólio) com um domínio próprio ou mesmo um domínio sem uso, pode associá-lo à conta no microblog. Essa característica é interessante por comprovar a autoria do perfil na rede social, algo fundamental para pessoas públicas e empresas. Essa função tem o mesmo valor das verificações de perfis em outras plataformas, mas a boa notícia é que ninguém precisa pagar ou ter “milhões de seguidores” para conseguir o selo.
Criar feeds sobre temas diferentes
Além da tradicional timeline cronológica, onde aparecem as atualizações de quem você segue, é possível se inscrever em feeds sobre temas determinados. Se uma pessoa tem interesse em literatura, por exemplo, pode criar um feed dedicado a esse tema ou seguir um já feito por outro usuário. Assim, tem acesso a posts com as hashtags definidas, independentemente se segue ou não quem os publicou. Como resultado, você personaliza sua experiência.
Ter maior controle sobre o conteúdo que chega até você
As configurações de moderação do conteúdo possibilitam aos usuários silenciar posts com certas palavras e tags por períodos que vão de uma semana até a tempo indeterminado. Sabe aquele assunto-gatilho para você? Agora sua timeline pode ficar livre dele. Esta é uma ferramenta com grandes benefícios para uso pessoal. Além disso, os servidores podem definir as regras para as publicações que irão hospedar. A própria comunidade consegue se autorregular e restringir o que não interessa.
Bluesky ou Threads: qual é o melhor?
Outra rede social com proposta semelhante e que ganhou destaque após o bloqueio do X foi o Threads, do grupo Meta. Essa plataforma está ligada à conta do Instagram, sendo necessário estar cadastrado nesta para abrir uma conta naquela. Como ele utiliza a mesma base de usuários do Instagram, uma das principais vantagens é a possibilidade de aproveitar os seguidores dessa rede na nova conta. Vale ressaltar que posteriormente esse vínculo pode ser removido.
Ao que parece, o Threads é mais interessante para influenciadores, empresas e criadores de conteúdo. Isso porque não têm a força para incentivar discussões, como acontecia no X. Por isso, pessoas mais ativas no antigo Twitter estão preferindo o Bluesky, enquanto muitos famosos acabaram optando pela plataforma do grupo Meta.
A escolha entre Threads ou Bluesky depende do quanto você usa esse tipo de comunicação e qual é o seu objetivo nas plataformas. Eu, particularmente, não estou muito satisfeita com o direcionamento que o Mark Zuckerberg está dando para a comunicação em suas redes sociais, então o Bluesky me parece uma alternativa mais atrativa. Inclusive, você pode me seguir por lá: sou @alinelima.bsky.social.
Será que o X volta a ser liberado novamente?
O Brasil é apenas um dos países onde Elon Musk tem causado furor. Recentemente, ele também foi alvo dos ministros da União Europeia pelo mesmo motivo: recusa a bloquear perfis e conteúdos considerados extremistas e preconceituosos. Não é à toa que a base defensora dessa postura por aqui constitui exatamente a extrema-direita. Mesmo com algumas decisões questionáveis do ministro brasileiro para resolver o assunto, está claro que o bilionário age conforme os próprios interesses políticos e econômicos.
Os discursos a favor de uma democracia são contraditórios quando comparados a atos anteriores de Musk. O empresário acatou as solicitações de bloqueios de contas na Índia e Turquia, mas o apoio recebido de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro parece encorajá-lo a descumprir as ordens por aqui. Isso é um problema para o desbloqueio rápido do X. Alexandre Moraes não parece recuar em sua decisão e os brasileiros estão pegando apreço pelas outras alternativas ao tradicional microblog. Musk que se cuide.
Já experimentou o Bluesky? Como está sendo sua experiência por lá? Deixe seu handle nos comentários e sobre quais temas você comenta para unirmos forças nesse novo espaço. Não se esqueça de me seguir também: @alinelima.bsky.social.
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