Sobre o dia do blog e o tempo em que ele dominava a internet

 

O dia 31 de agosto foi a data escolhida para celebrar o dia do blog, a plataforma que revolucionou a produção de conteúdo na internet. Os blogs foram o primeiro espaço online a democratizar o compartilhamento de informações e a possibilitar a interação entre leitores e autores. Isso deu uma nova dinâmica ao tradicional modelo de comunicação, no qual os leitores assumiam o papel de meros receptores.

Pela primeira vez, todos podiam ter um espaço para propagar a própria voz. Plataformas como o Blogger (blogspot), adquirida pelo Google, e o WordPress permitiram qualquer pessoa ter um site de forma fácil. O que antes era algo muito caro e, consequentemente, restrito às grandes empresas, logo se tornou gratuito e dispensou a necessidade de programadores. Bastava criar uma conta, escolher um nome e começar a escrever.

Não tardou para os blogs tornaram-se parte da rotina dos adolescentes do final dos anos 2000, que os utilizavam para se expressar e divagar sobre os mais diferentes assuntos. Essas plataformas assumiram a função de diários virtuais ou espaços para compartilhar um pouco do mundo individual de cada escritor. E isso ia além das palavras publicadas. Os aspirantes a blogueiros da época brincavam com os layouts, buscando modelos que estavam mais alinhados à sua essência e proposta naquele espaço, e estudavam para customizá-lo.

Essa brincadeira formou a base profissional de muitos dos designers e programadores atuais, como é o caso da Ana Flávia Cador. É um tempo nostálgico para quem viveu a época e passava horas navegando pelos blogrolls afora descobrindo novos blogueiros (os millenials sabem do que estou falando).

O auge dos blogs e o reinado das it girls

No meio tanto sucesso, os blogs começaram a se profissionalizar. Os mais dedicados à atividade de blogueiro e com uma boa estratégia de conteúdo começaram a se destacar na internet, conquistando uma grande base de fãs. Essas pessoas ganharam fama, muitas vezes nacionalmente, e se tornaram as primeiras influenciadoras do país. Toda essa base de leitores fiéis brilhou aos olhos de diferentes empresas, dando origem às primeiras parcerias comerciais.

O setor de moda e beleza foi um dos que mais cresceu nesse sentido, com diversas blogueiras virando referência no mercado. Conhecidas como it girls, elas transformaram o mundo da moda quando começaram a ditar tendências e novas regras, reduzindo o controle das tradicionais grifes. Um dos primeiros nomes a se destacar nessa nova profissão foi o da italiana Chiara Ferragni, autora do blog The blond salad, agora atualizado por sua equipe.

E o mercado nacional não ficou de fora. Helena Bordon, Thássia Naves, Nati Vozza, Camila Coelho e Bruna Tavares são alguns nomes da época que ainda são fortes. A maioria, entretanto, deixou os blogs e canais do YouTube de lado ou passaram a utilizá-los como complemento às estratégias de marketing das marcas que criaram. Elas aproveitaram a força que tinham e construíram uma carreira como empresárias.

As postagens glamourosas e a vida luxuosa das it girls serviram de inspiração para milhares de meninas. Elas viam na atividade de blogueira a possibilidade de serem tão bem sucedidas quanto as influenciadoras que admiravam. Na época, surgiram milhares de blogs e vlogs cheios de resenhas de produtos, tutoriais de maquiagem, dicas de moda, atualizações das tendências e looks do dia. Foi nessa época que o termo “blogueirinha” passou a ter um sentido depreciador.

Blog como ferramentas de negócios

Essa visão business sobre os blogs mudou completamente a forma de blogar. As plataformas já não eram mais um espaço para falar sobre a vida e coisas aleatórias. O foco era monetizar o conteúdo e transformar essa atividade em uma fonte de renda. Com isso, a produção de conteúdo se tornou mais estratégica, até para chamar a atenção de empresas interessadas em parcerias.

As próprias empresas começaram a utilizar blogs para ter um canal direto de comunicação com clientes e potenciais clientes. Estratégias de marketing de conteúdo voltadas para essa plataforma tornaram-se obrigatórias para qualquer marca se destacar e formar uma comunidade fiel na área em que atuava. E os blogs eram importantes tanto pelo contato com o público quanto por tornar o site da empresa mais visível na internet.

Este último motivo é tão importante que é, inclusive, uma das principais justificativas para empresas com mais recursos manterem seus blogs corporativos atualizados ainda hoje. Embora as pessoas não acompanhem blogs como antes, ainda buscam soluções para seus problemas e quem disponibilizar a informação ganha a atenção delas.

Será que vale a pena ter um blog hoje (2024)? Uma reflexão sincera para este dia do blog

Os tempos mudaram bastante desde o auge dos blogs. Novas plataformas estão na preferência da massa e mesmo o comportamento das pessoas online está diferente. O estilo low profile está ganhando força e os vídeos curtos reinam na preferência das novas gerações. Mas ainda existem os nostálgicos como eu e os que preferem conteúdo em texto e feito por pessoas. Sim, com os textos gerados por inteligência artificial (IA) já é uma questão. Existe até uma previsão de que em cinco anos 99% do conteúdo da internet será produzido por IA.

Se você perguntar ao Google se vale a pena ter um blog hoje, ele vai rapidamente apresentar uma série de blogs de agências dizendo que vale a pena sim. Geralmente são textos com os mesmos argumentos utilizados há alguns anos, quando o contexto na internet era outro. Hoje as pessoas não têm mais o hábito de acompanhar blogs, as IA revolucionaram a produção de conteúdo digital. É preciso levar isso em conta ao decidir investir tempo e outros recursos em uma plataforma.

Apesar disso, acredito que vale, sim, a pena ter um blog ― tanto que estou aqui escrevendo este texto. É preciso entender que eles já não são mais diários virtuais e as pessoas só leem algo se fizer sentido para elas, seja ajudando com uma solução, seja entretendo. Elas precisam ver valor nos artigos publicados e possivelmente ter uma forma de lembrete para voltar ao seu site e verificar os novos posts. 

O que você pensa sobre isso? Também prefere os blogs às plataformas atuais? Acredita que vale a pena ter um blog hoje em dia?

Este é o primeiro artigo de uma mini-série que preparei para comemorar o dia do blog deste ano. Aguardo você no próximo post!

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